terça-feira, 30 de junho de 2009

AS ONDAS DE GLOBALIZAÇÃO

ONDAS DE GLOBALIZAÇÃO
No início da primeira onda de globalização, que durou de 1870 a 1914, o mundo era muito mais homogêneo que agora, isto é, era muito mais pobre e agrário. Apesar disso, essa onda industrializou o Norte e desindustrializou o Sul, produzindo uma enorme divergência de renda entre umas e outras nações.

A segunda onda de globalização, que teve início em 1960 e continua ainda hoje, está desindustrializando os países da OCDE e industrializando os chamados países emergentes ou novos países industrializados, produzindo uma convergência de renda entre os dois lados, enquanto o resto do mundo — especialmente a África e parte da Ásia e da América Ibérica — continua agrícola e está se marginalizando em grande velocidade e aumentando sua distância em termos de renda per capita.

Em 1870, a nação mais rica do mundo tinha nove vezes mais de renda per capita do que a mais pobre. Em 1990, a mais rica tinha 45 vezes mais renda per capita do que a mais pobre. Em 1998 a renda per capita dos Estados Unidos medida em termos de poder aquisitivo era superior a US$ 30 mil, a da União Européia, acima de US$ 20 mil, e a da África Subsaariana, inferior a US$ 600. Quer dizer, a renda per capita nos Estados Unidos é 50 vezes superior à da África Subsaariana, e a da Europa, 35 vezes maior. Sendo 100 o índice de partida em 1960, o Sudeste Asiático tinha alcançado uma renda per capital de 450% em 1990. A Ásia Meridional, cerca de 170%; a Europa Central e a Oriental, cerca de 160%; a América Ibérica, cerca de 150%; o Oriente Médio e a África, cerca de 140%; e a África Subsaariana tinha mantido os 100% de partida. Isso permitiu que a renda per capita dos novos países industrializados da Ásia e alguns da América Ibérica se aproximasse da dos países da OCDE, enquanto o restante dos países convergiu para um nível muito inferior. É o que tem sido chamado de convergência 'twin peaks', ou seja, de uma distribuição da renda per capita na forma de montanha passou a outra de duas montanhas, com algumas nações ricas ou recém-industrializadas melhorando e convergindo a um elevado nível e outras pobres piorando e convergindo a um nível muito mais baixo.
Ambos os processos de globalização produziram convergência entre as nações relativamente mais ricas, mas aumentaram a divergência entre estas e as relativamente mais pobres. Sendo assim, o processo foi diferente em cada globalização. A primeira onda de globalização começou com uma renda per capital inicial não muito diferente, e produziu uma forte divergência entre o Norte que se industrializava e o Sul que se desindustrializava. Nesta segunda onda, partindo já de diferenças de renda bem consideráveis, houve uma convergência entre os países emergentes que se têm industrializado e os mais ricos que se têm desindustrializado, mantendo uma forte divergência com o restante.

Quanto ao futuro, as recentes teorias econômicas de crescimento endógeno (Lucas e Romer) e da nova geografia econômica (Krugman) dão uma certa esperança. De acordo com essas teorias, o processo de globalização desta segunda onda é mais convergente, já que está baseado em maior medida no aumento do comércio de idéias e inovações do que no de produtos.

No período de pré-globalização, os custos de transporte são muito elevados e não há quase comércio. Dados os elevados custos de transporte, a pouca indústria existente está dispersa. Quando os custos de transporte começam a cair rapidamente, desencadeiam-se forças centrípetas de aglomeração que fazem com que a indústria comece a se concentrar naqueles países (neste caso, a Inglaterra) que a desenvolvem primeiro. O Norte, que é o primeiro que se industrializa, entra em um círculo virtuoso, se desvincula do Sul e inicia um processo de divergência. Aumenta-se a renda no Norte, o que leva a uma maior capacidade de compra e a um maior mercado, o que, por sua vez, atrai mais investimentos e o ciclo volta a se iniciar, aumentando a divergência, porque o Sul se desindustrializa, a ponto de sua indústria não poder competir com a do Norte.
Nesta segunda onda de globalização, o custo do intercâmbio de idéias e inovações cai muito mais rapidamente do que o do intercâmbio de bens mediante o desenvolvimento das telecomunicações, a situação de centro-periferia segue instável e começam a se desenvolver as forças centrífugas. Muitos países do Sul, os mais estáveis e empreendedores, sobre a base de mão-de-obra barata e o acesso à inovação e à tecnologia do Norte, começam a se industrializar e a convergir com ele. As empresas dos países do Norte investem maciçamente nesses países emergentes do Sul, o Norte começa a se desindustrializar e a se especializar em serviços com alto conteúdo de mão-de-obra qualificada e tecnologia. O caminho da convergência tenderá a ser maior, quanto mais rápido for o intercâmbio de tecnologia, capital e mão-de-obra entre o Norte e o Sul.

E o que acontecerá com os países que ficam desarmados por não ter bases de educação, estabilidade, organização e ânimo empreendedor suficientes? Se queremos que esta nova onda de globalização se consolide, é preciso fazer um esforço solidário mundial para conseguir que esses países também convirjam, investindo bastante neles em capital humano e infra-estruturas e comprando deles suas produções, admitindo muitos dos seus emigrantes. Parte do problema do estancamento de sua renda per capita deve-se ao crescimento excessivo da população, e este aumento deve-se à falta de instrução. Este será o grande desafio da globalização no século 21.

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